• 06 MAR 20
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    Pegue leve

    Pegue leve

    Autocrítica constante gera culpa que paralisa e contribui para mais fracasso

    Por Talita Castelão, Revista Adventista


    Como você reage quando alguma coisa dá errado? Chora, grita, esperneia ou se culpa? Talvez você tenha padrões muito elevados de exigência. Saiba que isso pode ser prejudicial para você mesmo.

    No mundo de hoje somos constantemente desafia­dos a “fazer melhor”. Vivemos com a insana sensação de que nunca é o bastante. Contudo, compaixão con­sigo mesmo é um elemento importante para a auto­ estima e saúde emocional. Ter autocompaixão significa ser mais gentil e bondoso consigo mesmo, da mesma forma que se agiria com um amigo. Autocrítica constante gera culpa que paralisa e contribui para mais fracasso.

    O estudo da autocompaixão como um constructo científico teve iní­cio em 2003, com a psicóloga Kristin D. Neff da Universidade do Texas, em Austin (EUA). Desde então o tema vem sendo pesquisado por espe­cialistas, que têm concluído que se tratar com amabilidade ajuda na autoaceitação, maturidade psíquica e mudança de padrões cristaliza­dos e repetitivos do comportamento (“Self-Compassion: An Alternative Conceptualization of a Healthy Attitude Toward Oneself”, Self and Identity [2013], nº 2, p. 85-101).

    Porém, a prática da autocompaixão não deve ser confundida com vitimização, fraqueza ou autocomplacência. Isso seria um erro, pois a autocompaixão nos direciona, de maneira mais bondosa, para o autoaperfeiçoamento. Em seus estudos, Neff destaca três componen­tes indispensáveis nesse processo: (1) tolerância para consigo mesmo em períodos difíceis e confusos; (2) atenção ao sofrimento de maneira consciente, sem exagero; e (3) reconhecimento da dor como parte da experiência humana, não exclusiva a uma só pessoa. Neff acredita que não somos influenciados apenas pelo que enfrentamos na vida, mas também pela nossa maneira de lidar com nós mesmos ao passarmos por essas dificuldades.

    Pesquisas realizadas em 2012 pela psicóloga social Ashley Batts Allen, da Universidade de Duke (EUA), com adultos mais velhos, concluíram que a autocompaixão traz benefícios psicológicos impor­tantes, como menores índices de ansiedade e depressão, maior senso de bem-estar e menor gasto de tempo pensando em coisas desagra­dáveis que consomem a energia emocional. Outra constatação interessante é que a autocom­paixão favorece a resiliência e promove uma recuperação mais rápida em situações adversas, como luto e divórcio (“Self­ Compassion and Well-Being Among Older Adults”, Self and Identity [2013], nº 4, p. 428-453).

    Em 2013, Kristin Neff dirigiu outro estudo sobre autocompaixão envol­vendo 104 casais. Surpreendente­mente, cônjuges autocompassivos eram considerados por seus parcei­ros como mais carinhosos, solidários e menos controladores e agressivos. Kristin argumenta que dificilmente um relacionamento será saudável se alguém sempre oferecer o melhor ao outro e for extremamente duro consigo mesmo (“The role of self-compassion in Romantic Relationships”, Self and Identity [2013], nº 1, p. 78-98).

    Se a autocompaixão traz tantos bene­fícios, a autocrítica severa e o desmerecimento próprio podem ser maléfi­cos. Então, nas situações em que você constatar que escolheu mal ou falhou, o primeiro passo é acolher-se para, na sequência, comprometer-se conscien­temente com a mudança. Lembre-se de que ninguém muda para melhor sentindo-se mal.


    TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências

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