Halitose
Quando o mau hálito é mais sério do que parece
Por Késia Diego Quintaes, Revista Vida e Saúde
A halitose ou mau hálito é uma condição desagradável que afeta muita gente. Mas é importante dizer que a halitose não deve ser confundida com o odor oral temporário causado pela ingestão de certos alimentos como alho, ou pelo uso de medicamentos e também de cigarro.
A maioria dos adultos sofre de halitose ocasionalmente, enquanto uma boa parcela lida com esse problema regularmente. A American Dental Association estima que 50% das pessoas tenham halitose. Na Jordânia, foi relatada halitose em 25% dos adultos (20-60 anos) enquanto na China a prevalência de halitose em uma amostra de mil homens e mil mulheres (15-64 anos), foi de 27,5%.
A halitose é multifatorial, podendo envolver doenças que afetam o ouvido, nariz, garganta e intestino e estar relacionada ainda a diabetes, alterações hormonais ou metabólicas, insuficiência hepática e renal, bem como doenças brônquicas e pulmonares. No entanto, em 85% dos casos, a halitose tem origem na cavidade oral.
Em linhas gerais a halitose é classificada em três categorias: genuína, pseudo-halitose e halitofobia. A primeira é diagnosticada quando o mau odor está além do nível socialmente aceitável. Se o mau cheiro não é percebido pelos outros, embora o indivíduo se queixe insistentemente da sua existência, trata-se da pseudo-halitose. Porém, se após um tratamento de halitose genuína ou pseudo-halitose o indivíduo ainda acreditar que está com o problema, é muito provável que o diagnóstico seja de halitofobia.
Halitose de origem oral
Há consenso de que a halitose envolve o revestimento lingual, doença periodontal, doença peri-implantar, lesões cariosas profundas, polpas dentárias necróticas expostas, ulcerações da mucosa, restos de alimentos, restaurações dentárias imperfeitas, além de outros diversos problemas odontológicos e também de fatores que causam diminuição no fluxo salivar, como consumo de álcool. Vários estudos mostram relação entre o mau odor oral e a doença periodontal.
De forma resumida, o mau hálito teria origem na degradação microbiana de substratos orgânicos, como glicose e peptídeos, e proteínas presentes na saliva, tecidos moles da boca e restos de alimentos retidos. As proteínas contendo aminoácidos sulfurados (cisteína e metionina), bem como o triptofano e a lisina, servem de substratos para degradação microbiana anaeróbica. Como resultado, há formação de compostos sulfurados voláteis (CSV), incluindo sulfureto de hidrogênio, sulfeto de dimetila e mercaptano de metila. Todos contribuem para o mau cheiro, sendo o último o principal componente do mau odor associado a doença periodontal.
Os micro-organismos responsáveis pela produção de CSV incluem proteolíticos anaeróbios obrigatórios, os quais se alojam no revestimento lingual e nas bolsas periodontais. Porphyromonas gingivalis, Tannerella forsythia, Fusobacterium nucleatum, Prevotella intermedia, Treponema denticola e Solobacterium moorei estão entre as principais bactérias associadas a halitose. A diversidade de espécies bacterianas encontradas na halitose sugere que o mau hálito pode ser o resultado de complexas interações entre elas.
Além dos citados CSV, tem sido sugerida a participação de outros compostos no mau hálito, como os ácidos graxos de cadeia curta (butirato, propionato, valerato), diaminas (cadaverina, putrescina), álcoois, compostos fenílicos (indol, escatol, piridien), alcinos, cetonas e compostos contendo nitrogênio (ureia, amônia).
Halitose de origem não oral
A etiologia da halitose não oral pode incluir distúrbios do trato respiratório superior e inferior, trato gastroinstestinal, algumas doenças sistêmicas, metabólicas e carcinomas. Paralelamente, a parasitose é sugerida como sendo uma possível causa de halitose, bem como situações estressantes podem predispor ao problema.
Há relatos sugestivos de halitose originada no trato respiratório em função de sinusite crônica, tonsilite crônica, obstrução nasal e corpo estranho no trato respiratório superior. Relatos de halitose originada do trato gastrointestinal e doenças sistêmicas envolvem a doença inflamatória intestinal, infecção por Helicobacter pylori, gastrite, refluxo esofágico, diabetes mellitus, entre outras.
Medicamentos que causam halitose
Alguns remédios têm sido apontados como causadores de halitose: que reduzem o fluxo salivar, como antidepressivos, antipsicóticos e narcóticos. Outros, como a ciclosporina (imunossupressor) e um derivado de óleo de peixe usado no tratamento da doença de Crohn, também foram associados ao mau cheiro. Uma vez cessado o uso do medicamento a halitose tende a desaparecer.
Avaliação
Há três principais métodos de medição da halitose, além de métodos alternativos com sensores químicos, incubação salivar, avaliação da atividade enzimática, entre outros. Mas a medição da halitose é complicada por uma variedade de parâmetros, sendo que cada método tem vantagens e deficiências em relação a esses parâmetros.
Como tratar a halitose de origem oral
O tratamento da halitose se baseia em três tipos de evidências que suportam a tese de que as bactérias da cavidade oral originam a halitose. A primeira, in vitro, decorre da indução da produção de CSV mediante fornecimento de peptídeos e aminoácidos na boca. A segunda envolve o fato de a halitose ser imediatamente limitada com a redução de substratos e micro-organismos, como escovar os dentes e limpar a língua, o que não teria sido possível se a halitose tivesse origem em regiões não orais. A última envolve a eficácia de agentes antibacterianos orais na redução da halitose.
Assim, o tratamento odontológico deve ser feito pelo dentista que irá identificar in loco a causa do problema. No dia a dia, é necessária a remoção mecânica do revestimento da língua com escovas de dentes ou raspadores de língua, afinal, mesmo entre indivíduos saudáveis, sem halitose e/ou doença periodontal, a língua é o principal local de produção de CSV. Além disso, o uso de produtos de higiene bucal suplementados com produtos químicos eficazes na prevenção do crescimento bacteriano ou na neutralização dos CSV, pode melhorar significativamente a condição. O dentista poderá recomendar os mais indicados para o caso.
Paralelamente, é recomendável reduzir o consumo de alimentos e bebidas sabidamente relacionados à halitose. As bebidas alcoólicas, por exemplo, devem ser evitadas pois resultam em halitose. De outro lado, há certos alimentos e condimentos que podem contribuir para minimizar o mau hálito. O periódico Archives of Oral Biology reportou em 2017 que o óleo de canela é eficiente para inibir o crescimento microbiano e a produção de sulfeto de hidrogênio, sendo indicado para incorporação aos produtos de higiene oral.
E se escovar os dentes após as refeições é importante, para quem tem halitose é algo que deve ser feito sistemática e metodicamente, logo após o consumo de alimentos.
KÉSIA DIEGO QUINTAES é Doutora em Alimentos e Nutrição
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